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OMICRON: “TRANSPORTE PÚBLICO COLETIVO NÃO É O VILÃO”, afirma especialista

Mês passado o Mova-se Fórum de Mobilidade foi surpreendido com a notícia vinculada na CNN na qual tinha a seguinte manchete  “Transporte público é o “vilão” para transmissão da Ômicron, afirma SBCC”.A tese dos defensores desta ideia é que dentro dos ônibus a aglomeração é inevitável e, por isso, o ônibus não seria o meio de deslocamento apropriado e apontando a questão da circulação interna do ar. Tal fato só ocorre quando o veículo possui ar-condicionado  e as janelas ficam fechadas.

Entretanto ao longo dos 2 anos de pandemias foram apresentadas várias evidências cientificas de que os usuários do transporte público coletivo não enfrentam maior risco de infecção do que ninguém. Uma vez que os passageiros geralmente estão sozinhos, não conversam com outros passageiros e todos eles estão usando máscaras.

Um estudo publicado na França em 2021 descobriu que dos 150 grupos de infecção que apareceram após a reabertura da economia, nenhum foi rastreado ao transporte público.Outro estudo feito em Nova York em 2020 demonstrou que em Manhattan tinha a maior densidade de linhas de metrô, mas a menor incidência de casos COVID-19. Em contraste, as áreas com maior uso de carros tiveram maiores taxas de contágio.

O especialista em transporte público Mohamed Mezghani, secretário-geral da Associação Internacional de Transporte Público (UITP), disse: “O transporte público foi estigmatizado no início da pandemia e, como resultado, estações ferroviárias, trens e ônibus foram desinfetados regularmente desde o início. O uso de coberturas faciais, em praticamente todos os países, também foi obrigatório desde o início.”

Em pesquisa realizada pelo Imperial College de Londres (Inglaterra), divulgada em fevereiro de 2021, não encontrou vestígios de Covid-19 na rede de transporte de Londres desde o início da repetição dos testes em outubro passado. Nela foi relatada que os pesquisadores têm coletado amostras do ar e da superfície em viagens de metrô entre duas estações principais e em uma viagem de ônibus, mas não encontraram nada. O relatório explica que as amostras são retiradas dos saguões das estações e de áreas frequentemente tocadas, como escadas rolantes e máquinas de bilhetes. Todos os testes foram negativos para todas as variantes.

O Dr. David Green, pesquisador sênior da Imperial College, disse que as descobertas dos testes “muito sensíveis” são “tranquilizadores para os passageiros” e acrescentou que os testes em andamento serão úteis quando as restrições forem amenizadas.

Nos Estados Unidas um outro estudo realizado em Nova York apresentou que cerca de 66% das pessoas que foram infectadas pela doença estavam dentro de suas casas. O governador de Nova York afirmou surpreso que: “Achamos que talvez eles estivessem usando transporte público e tomamos precauções especiais no transporte, mas na verdade não, porque essas pessoas estavam literalmente em casa”.

Os resultados positivos dos estudos científicos sobre o transporte público e COVID-19 não são coincidência. Desde o início da pandemia, os operadores de transporte público rapidamente assumiram a responsabilidade e tomaram medidas concretas para tornar os sistemas de transporte seguros COVID para funcionários e passageiros. Foram adotados protocolos de limpeza mais rígidos com produtos químicos antivirais e com água e sabão.

Já no Brasil o estudo da NTU concluiu que não há comprovação de que o uso de transporte público tenha aumentado o número de casos causado pelo novo coronavírus. O levantamento foi realizado em 171 municípios brasileiros. Outro importante estudo feito no Brasil pela Universidade de Caxias do Sul mostra que a circulação de ar dentro dos ônibus é 63% superior a de estabelecimentos como supermercados, agências bancárias ou saguões de aeroportos.

Em outro estudo da NTU verifica-se uma considerável variabilidade entre os indicadores (casos confirmados e demanda de passageiros) sob análise. Nas 7 primeiras semanas analisadas (14ª até 20ª) os níveis de utilização do transporte coletivo foram consideravelmente acima dos registros de casos. Essa situação também ocorreu nas últimas 5 semanas (26ª até 30ª). Contudo, no período compreendido da 21ª até a 25ª semana epidemiológica o número de pessoas contaminadas foi superior ao uso do transporte público. Sendo assim, os dados apresentados indicam que a suposta ligação entre o uso do transporte público e a propagação da COVID-19 não pode ser comprovada a partir da análise. Portando, não existem evidências cientificas para afirmar que as variações no número de casos confirmados dependem diretamente do número de passageiros utilizando o transporte público por ônibus.

Em estudo feito pela prefeitura de São Paulo (2020) observou que nas residências com cinco ou mais moradores o risco de contágio foi de 16%. Já entre os que declararam usar o transporte público foi de 10,3%, bem menor que as pessoas que moram em casas com cinco ou mais ocupantes, e inferior entre as das pessoas que não usam o transporte coletivo que totalizaram 11,3%.

Sendo assim, o médico e membro do centro de contingência da Covid-19 em São Paulo, José Medina, argumentou que “Em um aniversário você tem um tempo de exposição mais prolongado, pessoas de faixas etárias diferentes e com muita informalidade. No transporte público é mais difícil definir essa situação, mas é um lugar com protocolos. Você está de máscara, por um tempo de exposição público e está pensando no vírus e na prevenção”.

Em 2021 foi apresentado mais um estudo que demonstrou que o índice de contaminados pela covid- 19 entre os funcionários do sistema de Transporte por Ônibus da Capital de Porto Alegre, foi 28% menor que o da população geral da cidade. Em Goiânia a secretária municipal de saúde fez um estudo (setembro/20) que demonstrou que 12% dos usuários do transporte público tinham contraído Covid. Já o número de infectados no município estava em torno de 13%. Vale ressaltar que a pesquisa não investigou junto aos contaminados que usuram o transporte público onde e quando eles foram infectados.

 

Na contramão dos estudos. Parte da sociedade vem erroneamente comparado a lotação do transporte público com casamentos, estádios, “aglomerações”, eventos e aniversários. Mas devemos afirmar que não são a mesma coisa, e são baseadas apenas no senso comum e sem base cientifica. Isto demonstra que sem qualquer diálogo, estudos ou informações mais consistentes, os ônibus foram eleitos os vilões da pandemia, em detrimento de outros tipos de transporte. Este posicionamento vem desde março de 2020 e as restrições impostas ao segmento carecem até hoje de critérios técnicos.

 

Tal posição anticientífica esquece o fato que o setor de transporte possui um papel central em fazer com que as economias voltem a se movimentar e, ao mesmo tempo, conter a disseminação da COVID-19. Muitas pessoas precisam sair de casa para gerar renda. E o fornecimento de produtos e serviços continua dependente do acesso dos trabalhadores aos seus empregos. Muitos dos que precisam continuar se deslocando dependem do transporte público, que é a forma mais segura e eficaz de deslocamento em áreas urbanas. Mesmo durante a pandemia, o transporte público continuou a ser a espinha dorsal da mobilidade sustentável e essencial para a recuperação econômica dos municípios.

 

E ao propagar estas informações sobre o transporte público acaba levando pânico a camada mais vulnerável da sociedade que são aquela parcela da população cativa do transporte público.

 

 

Miguel Angelo Pricinote

Coordenador técnico do Mova-se Fórum de Mobilidade

Mestre em Transportes

Especialista em Saúde Pública

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